Estilhaços de vidro

Compelida em meus gritos,
meu delito maior foi te amar.
Entregar-me, desavisadamente

a um doente e maldoso ser.

Na penúria desmedida dos meus dias, 
me calei sofrida, carcomida 
em meu interior

de memórias dispersas,

prestes a sucumbir meus tormentos,
nos rebentos de um amor profano, devastador...
Escrito em versículos,  
por mestres obsoletos,
a inafiançável e desmedida subserviência, - demência
em te pertencer sem ser.

Desmoronei-me do abrigo
que em local de sacrifício
se transformou,  
quando maculei nosso amor bandido,
e tu o maculaste também.

Tu também inventaste inverdades...

mentiras expostas e reveladas em preces. 
- Não me esqueças!
- Não me deixes sem pensares em mim!

Deixastes um vazio...
um deserto no ermo do meu mundo.

Hoje esquecida
nos escombros 
ainda me contorcendo

diante de um templo destroçado
estou, perdida em lembranças
de um passado, do qual fui muito feliz.

Se fui meretriz, fostes cafetão!
Ao usares meu corpo em causa própria,
assim, como também usei e abusei,

dessa necessidade diária de ti.
Escrevermos nosso próprio  diário
com as mãos atadas

compondo um cenário único,
só nosso e afrodisíaco que
mais adiante nos calou,

derrubando pra sempre
sonhos de vidro... Ilusões!

Vidro refratário, contudo
se estilhaçou em mil pedaços ao léu,
no ventre do infinito.

A harpa angelical, não toca mais

sua sinfonia alada e ...

nos perdemos sem rastros deixarmos.

Ainda presa ao mastro de um navio
entre guerras em alto mar,

estou espatifada, rasgada, porém,
“supostamente” viva...

Mas, será que...
realmente estou?

Edna Fialho